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Universo feminino

Postado em terça-feira, 13 de maio de 2008

Agora q sabes como estou aqui, falarei mais uma história que aconteceu cronologicamente.


Um dia – Eu tinha, digamos uns dês, onze anos – Eu chego à escola, e aquela menina magrinha que usa aparelho e que eu sempre olhei com desconfiança, me entrega um convite. É, como eu espera, para uma festa de aniversário (as chatas sempre fazem aniversário). Só que desta vez há uma novidade: a festa inclui uma reunião dançante (o famoso baile.)

E agora? Eu nunca fui a um baile antes. Na verdade eu nunca dancei. Sim, eu sei que faz parte dos ritos tribais da classe média destinada a apaixonar adolescentes e pré-adolescentes de ambos os sexos; mas isto não é consolo, porque os rituais de iniciação podem ser extremamente dolorosos. Especialmente para quem é tímido e fica vermelho cada vez que tem de falar com estranho, ou, pior ainda, com uma estranha.

Mas eu não posso deixar de ir. De jeito nenhum. Todo o mundo vai, todos os meus amigos vão; se não pela reunião dançante, então pelas tortas e pelos doces, a grande atração da vida numa fase da existência em que as calorias realmente não engordam. O que é que eu posso fazer? Os adultos sempre podem mentir - e adulto sabe como mentir, passa a vida inteira fazendo isso – que tem compromisso. Mas não tenho compromisso algum; desde que Deus criou o mundo, esse sábado estava fatidicamente destinado a ser o dia de meu martírio, e a mais nada. Eu irei, pois. Minha última esperança seria uma catástrofe qualquer, uma guerra nuclear, um maremoto, atentado terrorista – mas conflitos armados parecem uma possibilidade longínqua, e maremoto em Santana de Parnaíba? Doença também seria uma boa possibilidade, infelizmente, porém, sou sadio, bem sadio.


Chega o dia do aniversário e junto com meus colegas lá vou eu para a casa da aniversariante, num estado de espírito comparável ao de um condenado que é levado para a cadeira elétrica. Sou recebido pela mãe da aniversariante com uma frase que soa como uma sentença – “Vai lá, rapaz, as meninas estão esperando para dançar” – e, a retirada sendo definitivamente impossível, penetro em território inimigo.

E ali estão elas, aquelas magrinhas e perigosíssimas criaturas – as meninas. Estão rindo, cochichando, estão lançando olhares provocativos, enfim, estão fazendo tudo o que podem para me atrair à pista de dança – terreno minado, areia movediça. Eu bravamente resisto ainda que o apelo do som a todo volume (para tormento dos vizinhos) seja irresistível. Mas, como Ulises, eu me faço de surdo ao canto das sereias. Numa desesperada manobra, recuo até a parede, e ali me encosto (se depender de mim, esta parede não cairá jamais, eu a sustentarei para todo o sempre), decidido a bradar como Prometeu:- Resisto! Meus amigos, traidores abjetos da masculinidade, já caíram na dança. Paciência. É nessas horas, que penso amargo, que a gente sabe com quem pode contar. E enquanto eu rumino meu desgosto sobre a inconfiabilidade do gênero humano quem se aproxima de mim? – a própria aniversariante, a magrinha de aparelho nos dentes! E sem a menor cerimônia me convida a dançar.

Não vou, claro. Seria a última coisa que faria. Resmungo uma desculpa qualquer, ela ainda insiste, mas acaba desistindo, mesmo porque chegou a hora de apagar as velinhas. Aproveito para me refugiar num lugar mais seguro – o banheiro – e lá fico quase até a hora da festa acabar.

E finalmente posso voltar para casa. Meus amigos vão alegres, contando vantagens, mas não falo nada. Porque continuo inquieto, sentindo que o Destino ainda não desistiu de me aprontar alguma. Mais cedo ou mais tarde serei apanhado. E algo me diz que a menina magrinha tem algo a ver com isso...

Quem já escreveu

  1. Huuum esse final me deixou curiosa!! haiuhsiuahisuhaiu Adorei o texto, dei muitas risadas aki! haha =) Beijoo!

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  2. bom, as vzes dxamos de viver grandes momentos por medo... precisamos as vezes perder para dar valor! A vida é maluca! Nós nos apressamos em busca de intimidade e envolvimento pessoal, apenas para morrer de medo quando a possibilidade aparece,isso eh bem verdade! tbm fiquei curiosaaa pelo final... espero que a vida tenha te ensinado com isso!

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